12 jan Práticas de acessibilidade nas empresas: simplifique e economize
Existe, no ambiente corporativo, dominado por tantas questões urgentes e pelos custos, quem superestime as coisas simples relacionadas à acessibilidade.
Descrição da imagem: Fotografia colorida com duas pessoas trabalhando sentadas em torno de um computador sobre uma mesa, ao lado de um tem um vaso com folhas verdes e pequenas flores vermelhas. No centro, um jovem branco de olhos claros, cabelo comprido, camisa preta, tem a mão direita sobre um notebook. Ao lado, uma mulher preta de cabelos cacheados, com camiseta branca e colete cinza, toma notas num caderno. Ao fundo, parte do rosto de mulher, de pé, olhando para o computador sobre os ombros dos dois sentados.
Mais por falta de tempo e informação qualificada do que por negligência.
E isso pode trazer problemas futuros para elas. Mais cedo ou mais tarde, com o avanço das tecnologias e a cada vez maior participação das pessoas com deficiência em todas as esferas da vida pública, os cidadãos e consumidores com deficiência – e o seu círculo familiar e de amigos – vão perceber o hiato entre o dizer e o fazer. E poderão criticar isto.
É que faz pouco tempo que no Brasil passamos a nos preocupar efetivamente com o assunto, e as tecnologias são muito rápidas.
Assim, muitos administradores, quando se deparam com algum tipo de exigência, querem resolver rápido e buscam uma “consultoria especializada” para “cumpri a lei”, quando na maioria das vezes basta que no dia a dia a empresa passe a agir com empatia, e progressivamente dê mais atenção ao universo de consumidores com deficiência.
Outros nem se perguntam se na equipe de comunicação não tem nenhum profissional capaz de legendar os vídeos da firma, ou refletem sobre descrever simples imagens de propaganda postadas nas redes, duas práticas que qualquer bom profissional pode aprender para usar sempre.
E tem os que pagam fornecedores para que façam o site da empresa com capricho, mas que ainda não seguem pelo menos as recomendações principais do consórcio W3C (Word Wide Web Consortium) sobre acessibilidade na internet.
Claro que é sempre bom ter alguém que resolva os problemas (ou as “dores”, como dizem no ambiente das startups) da empresa, mas talvez este não seja o caminho mais duradouro ou econômico quando se fala em acessibilidade. Por duas razões: junto com a informação momentânea, as equipes de profissionais de comunicação precisam de atitude, porque existem muitas maneiras de praticar a acessibilidade, e algumas não custam nada. E também porque sempre que mudarem a tecnologias ou as equipes, lá vamos nós chamar outra consultoria especializada.
Que tal substituir a expressão “as dores” por “os desejos”? Talvez tudo fique menos dramático.
Se a acessibilidade estiver na cultura das empresas, e se as equipes tiverem informadas sobre os princípios, ou fundamentos, da acessibilidade comunicacional, elas vão saber praticar sempre, a qualquer momento e com qualquer tecnologia. Os fundamentos sobre legendagem, língua de sinais e audiodescrição existem há décadas. Eles só são aperfeiçoados, como qualquer prática comunicacional cotidiana, com ferramentas e métodos atuais.
Se o profissional de comunicação cumpre o pré-requisito de dominar a língua portuguesa (não precisa ser gramático), ele pode facilmente achar informações gratuitas sobre o número de caracteres, o tempo e velocidade de exposição e as segmentações linguísticas de uma legenda. E começar a legendar todos os vídeos, sem custos-extra com softwares também gratuitos. Até o Youtube permite legendar vídeos, mas logo o bom profissional saberá que legendas automáticas podem ser úteis mas não são a melhor solução, e que o trabalho pode evoluir com a ajuda dos humanos. Vai levar tempo para isso? Menos do que você imagina. Tudo pode ser planejado e progressivamente ser inserido na rotina de cada um. Aos poucos e sem medo de errar, porque podemos todos aperfeiçoar nosso trabalho.
É bom também perguntar aos UXDesigners dos fornecedores do website e TI, o que eles entenderam sobre as páginas iniciais do W3C, que definem acessibilidade na internet e citam o Decreto Federal n° 5.296/2004 [1], em seu artigo 8°, I, que inclui “dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação”, e refere-se a pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida. Certamente eles saberão como trabalhar nisso porque cada vez mais pessoas desenvolvem boas práticas consolidadas no ambiente de TI, e talvez os seus fornecedores ainda não o fizeram porque ninguém deu a ideia. Então, vá lá e simplesmente diga: “faça meu site ser acessível para pessoas cegas e surdas”. A chance de na próxima atualização isso acontecer é altíssima. Pronto, é um caminho sem volta e você será empático sem grandes custos.
Até hoje, nas faculdades de cinema, propaganda e multimídia, nos planos de ensino relativos à pós-produção, ninguém ensina a relevância das traduções audiovisuais acessíveis – as TAV’s, como são chamadas na academia, porque são traduções feitas para um público que precisa delas. E nas aulas sobre planejamento de mídia e distribuição, os alunos de publicidade ignoram a existência de milhões de potenciais consumidores, que são as pessoas com alguma deficiência e que, vejam só, também fazem compras, viajam, assistem Tv e usam a internet como qualquer outro consumidor. Se os profissionais soubessem disso ainda na faculdade, muito provavelmente as coisas seriam muito mais simples.
Tecnologia existe. Profissionais existem. O mercado existe e, sim, precisamos convencer o Ministério da Educação ou o fundo de investimento que é dono da faculdade.
Mas, até lá podemos começar fazendo uma pergunta a nós mesmos: será que a minha empresa, que eu julgo tão legal e moderna, não consegue fazer algo tão simples, que é se comunicar com uma pessoa surda ou cega, através de legendas ou descrição de imagens?
Que tal começar pelo começo e, ao invés de chamar a Swat para aquela abordagem legalista e fria, que será perdida quando mudarem as equipes e as tecnologias, dialogar com pessoas cegas e surdas, para que elas digam como e o quê fazer? Sem dúvida isso vai ser mais eficaz e econômico do que uma temporada no Vale do Silício, porque os conceitos e princípios aprendidos serão perenes.